Venha curtir mais um capítulo do conto A Morte da Viúva
4 – De volta ao trabalho
Meia hora depois estavam em frente ao prédio onde dona Marieta morava.
– Qual é a sua ideia? – perguntou Nando.
– O Olavo está vindo para cá. Ele disse que o corpo só deve ser liberado mais tarde e o enterro só vai acontecer amanhã. Vou conversar com ele e ver se podemos falar com o resto da família. Vê o que você consegue com o porteiro. As câmeras de segurança, veja se consegue falar com algum vizinho. Vamos tentar levantar o máximo possível de informações.
– Combinado, vamos nessa.
Nando entrou no prédio para falar com o porteiro enquanto Ricardo ficava do lado de fora, esperando Olavo, que chegou logo em seguida.
– Bom dia, inspetor. Vamos subir? – indagou Olavo.
– Sim, melhor conversarmos lá em cima.
Os dois subiram para o apartamento de Marieta.
– Difícil entrar nesse apartamento agora, depois do que aconteceu. – falou Olavo percorrendo o imóvel com olhos. – Parece irreal, fico esperando que ela apareça a qualquer momento, como acontecia quando vínhamos aqui.
– Eu entendo. Esse sentimento é normal, afinal de contas vocês tinham uma rotina com ela que foi interrompida de forma brutal. – ponderou Ricardo. – O senhor tinha a chave do apartamento?
– Sim, todos nós temos uma chave. – respondeu Olavo.
– O senhor, dona Solange e os netos?
– Sim, nós cinco tínhamos a chave daqui, caso ocorresse alguma emergência quem estivesse mais próximo corria para cá.
– Perfeito. Nós vamos precisar conversar com todos vocês. Em um caso como esse vamos precisar fazer as perguntas de praxe a todos que eram próximos à vítima.
– Ou seja, você quer interrogar toda a nossa família. – falou Olavo, deixando transparecer uma ponta de insatisfação.
– Sim. Eu entendo que é uma situação desagradável, mas precisamos saber os hábitos de sua mãe, qual era a rotina dela, com quem ela costumava falar, se recebia visitas, essas coisas. Vamos precisar saber onde e com quem cada um de vocês estava no domingo. Estamos começando a investigação, então todo tipo de informação é importante.
– Isso significa que vocês estão desconfiando de nós?
– Isso significa que precisamos de todas as informações para podermos investigar e chegar ao culpado. A princípio as circunstâncias apontam que não houve arrombamento, nada foi levado. Quem cometeu o crime teve acesso ao apartamento da sua mãe, não precisou invadir. Dessa forma, cresce a possibilidade de que o assassinato tenha sido cometido por uma pessoa conhecida. Por isso precisamos saber o que cada um de vocês fez no domingo, onde estavam e com quem, para irmos eliminando as possibilidades. Precisamos identificar a rotina de Dona Marieta, o que ela costumava fazer aos finais de semana. Todos esses detalhes são muito importantes. – explicou o policial.
– Eu entendo. Uma pergunta, precisamos conversar aqui? Acho um tanto macabro trazer todo mundo pra cá. Ontem minha mãe estava ali no quarto, morta, e hoje vou reunir seus filhos e netos aqui. É meio assustador isso. – ponderou Olavo.
– Não vejo problema em conversarmos em outro lugar. O senhor mora aqui perto? – perguntou Ricardo.
– Moro a duas quadras daqui. Se o senhor quiser posso pedir para todos nos encontrarem lá. Basta me dizer que horas fica melhor para você.
Ricardo olhou o relógio antes de responder. Eram 10 horas da manhã.
– Ainda temos algumas coisas para fazer por aqui. Podemos ir ao seu apartamento após o almoço, por volta das 14:30.
– Tudo bem, vou tentar reunir todos lá, não sei se será possível, mas vou tentar. – colocou Olavo enquanto passava o endereço para Ricardo.
– Tudo bem. Nós entendemos que é um momento muito delicado para a família, mas é importante conversarmos com vocês o quanto antes. Se não for possível encontrar todos vocês lá, conversamos com quem puder e vemos o restante depois.
– Combinado, aguardo vocês lá após o almoço.
Olavo deixou o apartamento. Ricardo ainda ficou um pouco no imóvel, observando em volta. Que segredos estariam guardados naquele lugar, ficou pensando. Na verdade, todo o mistério estava guardado ali, um crime fora cometido no domingo, naquele apartamento. Lembrou de uma velha frase, “se essas paredes falassem”. Olhou mais um pouco em volta antes de descer para procurar Nando.
Encontrou o parceiro na portaria do prédio, ele conversava com uma senhora, que aparentava ter uns 70 anos.
– Eles nunca ligaram para ela. Eu conhecia a Marieta há quase 40 anos, conheci seu falecido marido, o falecido Anselmo, bom homem. – a mulher parou de falar quando percebeu a aproximação de Ricardo.
Percebendo a hesitação dela, Nando se apressou em fazer a apresentação.
– Dona Célia, esse é o meu parceiro, inspetor Ricardo.
– Muito prazer. – a mulher ficou à vontade após a apresentação. – Como eu ia dizendo, conhecia eles há muitos anos, vi os filhos crescerem, vi os netos chegarem, o Anselmo morrer. Enfim, posso falar com muita convicção sobre todos eles.
– A Dona Célia estava falando sobre a família e como eles tratavam dona Marieta. Ela é vizinha de porta da dona Marieta. – explicou Nando.
– Isso mesmo. – interrompeu a mulher. – Eles nunca ligaram para ela. Do Anselmo gostavam, ou melhor, gostavam da forma com ele agia, sempre passando a mão na cabeça dos filhos, relevando todas as besteiras que faziam e sempre um mão aberta com todos eles.
– Com os netos também? – perguntou Nando.
– Sim. Para ser sincera, era pior, pois vocês sabem como são os avós em relação aos netos, não é verdade? – ela fez a pergunta e não esperou resposta, continuou falando – Ele era muito mole com todos eles. Podia ser duro como patrão, até como vizinho, mas como pai e avô, era frouxo, bastava um sorriso e ele se derretia todo, sempre foi assim. Já Marieta era mais dura, não concordava com o comportamento do marido, repreendia todos quando faziam besteira, o que era constante, e era contra a distribuição de dinheiro, por parte do marido, sem nenhuma cobrança. Depois que ele morreu ela endureceu ainda mais com eles, mas o marido tinha deixado os postos de gasolina com os filhos, e isso rendia muito dinheiro, eles esbanjavam à vontade. Até que torraram tudo, aí se reaproximaram da Marieta. Só vinham aqui quando precisavam de grana, mas segurava a mão, não liberava fácil. Sempre havia discussão.
A mulher falava de forma indignada.
– Eles não vinham aqui regularmente, para ver como ela estava, para saber de sua saúde? – indagou Ricardo.
– Que nada. Depois da morte do Anselmo só quem se preocupava com ela era a empregada, mais ninguém. Os filhos e netos só apareciam quando precisavam de dinheiro. Aí vinha discussão. Era sempre assim. Muito triste tudo isso, pobre Marieta.
– Entendi. No domingo a senhora ouviu ou percebeu algo estranho no apartamento de dona Marieta.
– Nada, absolutamente nada. Ela não era de fazer barulho, era muito tranquila, quase não ouvia sua voz ou barulho vindo de lá. E, para falar a verdade, passei parte final de semana na casa da minha filha, em Petrópolis, só voltei no início da noite de ontem. E não ouvi nada. Somente a gritaria da empregada ontem de manhã.
– Muito obrigado pela ajuda dona Célia. – falou Nando.
– Pobre Marieta, era uma boa pessoa, não merecia isso. Podem contar comigo para o que precisarem. – disse a mulher enquanto se afastava.
– E, aí? – indagou Ricardo – Parece que a dona não é muito fã da família.
– Com certeza, não. – confirmou Nando – Aliás, mais uma que não vê a família com bons olhos. Além dela e da dona Rosa, o porteiro que trabalha de dia, Ismael, também descascou a família. Repetiu a mesma coisa que as duas mulheres falaram.
– E sobre as câmeras?
– Olha que coisa interessante: existem câmeras em vários pontos do prédio, na garagem são várias, tem uma que pega o portão de entrada, uma no hall onde fica o porteiro e uma em cada um dos dois elevadores. Advinha o que aconteceu nesse final de semana?
– As câmeras pararam de funcionar. – arriscou Ricardo.
– Sim, o sistema estava com problema e foi desligado no final de semana para manutenção.
– Já foi resolvido o problema?
– Sim, mas não temos imagens do final de semana.
– Bem conveniente isso.
– Coincidência perfeita, não é mesmo? – perguntou Nando – E o Olavo?
– Ele vai reunir a família no apartamento dele, às 14:30, para podermos conversar. Não quis conversar no apartamento da mãe. Até lá o que temos para fazer? – perguntou Ricardo.
– Bem, já que temos tempo, vou dar uma circulada na vizinhança para ver se tem algum prédio que possua câmera que pega a calçada, para ver se conseguimos algo. – comentou Nando.
– Boa ideia. Enquanto isso vou conversar com o porteiro sobre as câmeras, me ocorreu uma ideia agora.
– Beleza, encontro você aqui daqui a pouco. – falou Nando.
Quase uma hora depois os dois policiais se encontravam na portaria do prédio de dona Marieta.
– E aí, achou o que queria. – perguntou Nando.
– Achei. Falei com o porteiro e o síndico e consegui uma imagem de sábado que pode ser útil. E você, conseguiu algo?
– Também achei uma imagem que pode ser uma pista.
– Ótimo. Vamos almoçar, pois temos um encontro com a família de dona Marieta.
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