Conto A Morte da Viúva – Capítulo 5

Novo capítulo do conto A Morte da Viúva. Confira!

5 – Com a família

O almoço foi tranquilo, aproveitaram para trocar as informações que haviam obtido sobre o caso.

Terminaram de comer e foram para o apartamento de Olavo. Chegaram antes do horário marcado por Ricardo e encontraram somente Olavo e sua filha.

– Chegaram cedo! – exclamou Olavo.

– Não demoramos no almoço então é melhor, pois adiantamos o trabalho, melhor para todos nós. Além disso, ainda precisamos voltar para a delegacia. – explicou Ricardo.

– Tudo bem, podem ficar à vontade. – falou o homem saindo da frente da porta para que os policiais entrassem. – Essa é minha filha, Marcelle.

– Boa tarde. – cumprimentaram os policiais.

– Bem, senhor Olavo. Primeiro preciso das informações pessoais, suas e de sua filha, o de praxe, nome completo, data de nascimento, identidade.

– Tudo bem. – falou o homem, pegando uma folha para anotar as informações.

– Depois, precisamos saber onde o senhor e sua filha estiveram e o que fizeram no domingo. – colocou Ricardo.

– Bem, eu passei a tarde fora, com uns amigos.

– Onde passou a tarde?

– Na Gávea, com dois amigos, jogando conversa fora. No início da noite tomamos um chopp e depois vim para casa.

– O chopp foi ainda à tarde ou já à noite?

– Já no início da noite. Parei com dois amigos num bar, no Largo do Machado.

– E a tarde, o senhor também estava com esses amigos?

– Isso mesmo.

– Posso saber onde na Gávea o senhor esteve?

Ricardo percebeu que o homem a sua frente estava relutante em dizer onde estivera e resolveu fazer uma leve pressão.

– Senhor Olavo, infelizmente, como eu conversei com o senhor antes, tudo leva a crer que houve um crime no caso da morte da sua mãe. Para chegarmos ao culpado precisamos eliminar suspeitos. Então quanto mais preciso o senhor for em suas respostas, melhor para todos nós.

– Você está sugerindo que meu pai é suspeito? – perguntou Marcelle, falando pela primeira vez, fazendo uma cara de aborrecida. Ela devia ter por volta de uns 25 anos e Ricardo reparou, apesar do tom que sua voz era suave e macia.

– Na verdade, senhorita, todos acabam sendo suspeitos. Por isso que quanto mais precisos forem seus álibis, melhor para vocês. – respondeu Ricardo, olhando nos olhos da jovem.

– Tudo bem. – falou Olavo, cedendo aos argumentos do policial – Eu passei a tarde com esses dois amigos no jóquei, assistindo as corridas de cavalo. Saímos de lá por volta das 18 horas e paramos no Largo do Machado para beber. Passava um pouco das nove da noite quando cheguei em casa. Tomei um banho e parei para ver televisão.

– O senhor é casado?

– Sou divorciado. Moro aqui com a minha filha.

Os dois policiais olharam para a moça, como que esperando uma confirmação de que o pai chegara em casa às nove horas da noite de domingo e não saíra mais.

– Bem acho que agora é a minha vez. – disse ela olhando para Ricardo – Eu almocei na casa de um amigo, ficamos lá boa parte da tarde. Por volta das 17 horas viemos até aqui, tomei um banho troquei de roupa e fomos para o cinema, na praia de Botafogo. Estava doida para ver o Tom Cruise em Top Gun. Pegamos a sessão de 20 horas. Na saída fizemos um lanche e cheguei em casa um pouco depois na meia noite. – sorriu ela.

Nando não gostou da forma como ela olhou para Ricardo, isso poderia ser sinônimo de problema. Mas seu parceiro não deu sinal de quem estava ligando para o olhar da jovem.

– Perfeito. – falou Ricardo – Senhor Olavo, vamos precisar do nome e do contato de seus amigos. Precisamos confirmar sua versão.

– Então vai precisar do contato do meu amigo também. – afirmou Marcelle.

– Com toda a certeza. – confirmou o policial.

– Como era o relacionamento de vocês com dona Marieta? – Perguntou Nando.

– Bem. – o pai tomou a frente para falar – Nos dávamos bem. Mamãe era cheia de manias e não gostava de muita gente na sua casa, então não vivíamos lá. Mas estávamos sempre por perto quando ela precisava.

– Vocês a levavam para sair com frequência? – perguntou Ricardo.

– Vovó não gostava de sair. – esclareceu Marcelle – Quando queria ir a algum lugar ela ligava para um de nós. Mas isso era raro.

– Entendo. Mas e o relacionamento de vocês, como era? Ela era uma pessoa difícil de se lidar? – Perguntou Ricardo enquanto encarava Olavo – Pelo que apuramos ela não ficou muito feliz quando soube que o senhor e dona Solange haviam vendido os postos de gasolina que seu pai deixou, correto?

Olavo abaixou a cabeça por alguns segundos, antes de responder.

– É verdade. Estou vendo que vocês estão bem-informados. Para ser sincero, ela não ficou nada satisfeita, brigou conosco e tudo o mais, mas era nosso direito vender, era nossa herança, podíamos dispor da maneira que bem entendêssemos. Ela não aceitou muito bem esse fato, mas isso foi passageiro e depois ficou tudo bem.

– Fora isso vocês tiveram outros atritos?

– Nada significativo. Claro que sempre existe uma ou outra discussão, mas nada de muito relevante. – esclareceu Olavo.

– E você, como era o seu relacionamento com ela? – perguntou Ricardo agora falando com Marcelle.

– Para falar a verdade, eu não a via com muita frequência. Tenho minhas coisas para fazer e não estava sempre com ela. Uma vez ou outra ela me ligava e eu dava uma passada por lá. Mas a vovó não era fácil, ela pegava no nosso pé.

– Como assim “pegava no nosso pé”, você pode ser mais específica? – perguntou Ricardo.

– Ela vivia cobrando que eu e meus primos precisávamos estudar, trabalhar, essas coisas. Ela sempre falava sobre isso quando íamos lá.

– Isso incomodava você? – perguntou Nando.

Ela encarou o outro policial pela primeira vez, como se só agora notasse sua presença.

– Incomodava porque ela sempre repetia isso quando eu ia lá, parecia um papagaio. Mas não me preocupava com o que ela dizia, se é isso que você quer saber. Achava um saco a insistência, mas não brigava com ela por causa disso.

– Por isso você evitava ir até lá? – perguntou Ricardo.

– Eu não evitava ir até lá. – respondeu ela um tanto irritada – Como eu disse, eu tenho minha vida e minhas coisas para fazer, não podia ficar o tempo todo indo lá. Mas, sim, as vezes eu evitava ir até lá para não ficar ouvindo sempre a mesma falação, parecia padre rezando missa.

– Não precisa exagerar, Marcelle. – falou Olavo tentando intervir.

– Não estou falando nada demais, papai, só a verdade. – atalhou ela – Não gostava mesmo de ficar indo lá por causa disso, mas isso não quer dizer que eu tenha matado a vovó.

– Por favor, Marcelle, isso não é maneira de falar. – falou Olavo tentando disfarçar a contrariedade.

– Tudo bem gente. Não há problema. Só estamos fazendo algumas perguntas, nada além disso. – explicou Ricardo.

– Calma, papai, já disse que não fiz nada. Mas não vou fingir que estava sempre por lá e adorava as coisas que ela falava. – retrucou Marcelle. A sinceridade da jovem deixou o clima um pouco carregado. Os próprios policiais ficaram sem saber o que dizer. Nesse momento, para sorte deles a campainha tocou. Olavo levantou-se para atender. Eram Solange e seus filhos.

Fique atualizado(a), confira os capítulos anteriores.

Capítulo 4

Capítulo 3

Capítulo 2

Capítulo 1

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