Hora de mais um capítulo do conto “A Morte da Viúva”. Confira!
7 – Na delegacia
– E então, como estamos andando com a investigação? – perguntou o delegado assim que eles chegaram à delegacia.
– Ainda no princípio, mas já temos algumas coisas interessantes. Vamos sentar agora e discutir o caso. – informou Ricardo.
– Ótimo. Amanhã cedo quero um relatório preliminar na minha mesa. – intimou o delegado.
– Pode deixar, chefe. – falou Nando.
Assim que saíram da sala do delegado, os dois sentaram para discutir o caso com calma.
– E então, o que você acha? – perguntou Nando assim que fecharam a porta.
– O resultado da perícia chega amanhã, mas não dá para pensar em outra coisa que não seja um homicídio. – falou Ricardo.
– Concordo. Eu diria que foi um assassinato covarde e brutal. – colocou Nando.
– Você tem razão, alguém próximo atacou a velha com uma pancada na cabeça de uma forma covarde. O motivo, pelo que vimos até agora, só pode ser dinheiro. A não ser que apareça algum fato novo que redirecione a nossa investigação. – ponderou Ricardo.
– Concordo com você.
– Então, vamos ver o que temos. – falou Ricardo.
– Alguém esteve por lá no domingo, entrou para falar com ela na maior naturalidade, provavelmente já pré-disposto a matá-la. Na primeira oportunidade que teve, acertou a velha e se mandou. – Nando arriscou.
– É bem possível. – falou Ricardo enquanto espetava o pen drive no computador. – O síndico disse que o sistema de câmeras estava com problema, eles iriam mexer e ficaria desativado todo o final de semana. Todos os moradores foram informados por meio de uma circular.
– Todo mundo sabia disso. – divagou Nando – Qualquer um da família poderia estar sabendo.
– O problema é saber se algum deles foi visto no domingo, entrando ou saindo do prédio. Talvez tenhamos que fazer uma varredura, falando com todos os moradores para ver se descobrimos algo. – comentou Ricardo.
– Com o síndico do prédio vizinho eu consegui essa imagem aqui, do domingo à tarde. Então temos uma pessoa que, pelo menos passou pela porta do prédio no dia do assassinato. – disse Nando.
– Bem, isso não prova nada, pois não temos uma imagem da pessoa entrando no prédio, mas, de qualquer forma, serve para fazermos uma pressão, pois todos negaram terem estado lá no domingo. É um bom começo. – retrucou Ricardo – Você reparou no jeito do rapaz, fungando o tempo inteiro, parece que estava com uma irritação no nariz.
– Reparei. Conheço bem esse povo alérgico. – Nando deu uma risada – Pode até ser sintoma de rinite ou gripe mesmo, mas é muito difícil. Esse playboy deve ser viciado em drogas.
– Pois é, tudo é possível. Mas acho que você tem razão, a maior probabilidade é de que o garoto seja viciado. Vamos monitorar isso também. Além disso, é bom lembrar que não houve roubo. Pelo menos até agora a família não deu por falta de nada, dinheiro, joias, nada de valor.
– E temos que verificar a questão financeira. Pelo que todos com quem conversamos até agora falaram a mesma coisa, nessa família ninguém gosta de trabalhar e são todos gastadores. Dificuldade financeira é sempre um motivo para se cometer um crime. – salientou Nando.
– Vamos conversar com o delegado e passar o que temos, acho que podemos convencê-lo a pedir a quebra dos sigilos bancário e telefônico desse pessoal todo e ver o que conseguimos. Creio que vamos encontrar muita coisa interessante.
– Acho a melhor solução. Com isso podemos verificar se existe alguém com dívidas, desesperado por dinheiro e ver o que encontramos nas conversas telefônicas. Mas você acha que o chefe vai concordar com a quebra de cinco sigilos logo de cara? – perguntou Nando.
– Talvez ele reclame um pouco, mas acho que vai acabar concordando. O laudo vai confirmar a suspeita de homicídio, com certeza. Pra mim os cinco são igualmente suspeitos, então acho que ele vai concordar.
– Sim. E, também, não podemos descartar a possiblidade do crime ter sido cometido por mais de uma pessoa. Acho que uma quebra de sigilo bancário vai apontar que todos, ou quase todos, estão em dificuldades financeiras, então por que não mais de um assassino? – divagou Ricardo.
– É sempre uma possibilidade. Acho que estamos no caminho. – refletiu Nando.
– Acredito que sim. Vou iniciar o relatório para o chefe, enquanto esperamos o laudo da perícia. Com isso na mão vamos partir para a ação. – falou Ricardo se levantando e juntando os papéis.
– Você vai fazer isso em casa? – perguntou Nando.
– Claro. Pode deixar que vou estar com ele prontinho amanhã de manhã. – disse Ricardo.
– E você vai passar a noite sozinho, fazendo isso? Sem nenhuma menina por perto para te consolar? – provocou Nando.
– Não. Pretendo passar a noite toda fazendo esse relatório. E posso buscar consolo amanhã ou depois.
– Estou perplexo. – brincou Nando.
– Muito engraçado você, vai ganhar o concurso de piadista do ano. – resmungou Ricardo.
– Então vamos nessa. Os dois saíram da delegacia. Nando deixou Ricardo em Irajá e seguiu para casa.
À noite, em seu apartamento, Ricardo recebeu uma mensagem de Olavo, informando que o enterro de dona Marieta seria no dia seguinte, às 11 horas, no cemitério São João Batista, em Botafogo. Refletiu um momento se deveria ir até lá ou não. Depois de pensar um pouco no assunto, ligou para Nando.
– Alô, já está com saudades de mim? – brincou o parceiro.
– Estou morrendo de saudades de você, grilo falante. – zombou Ricardo.
– Tai, o apelido tem tudo a ver comigo, eu sou realmente o grilo falante, a voz da sua consciência, pena que você nunca me escuta, Pinóquio.
– kkkkkkkk, tá bom. – falou Ricardo explodindo em uma gargalhada. – É o seguinte, o Olavo avisou que o enterro da dona Marieta será amanhã de manhã. Pensei em dar uma passada por lá, para sondar o ambiente. Depois encontro você na delegacia.
– Tudo bem.
– Vou terminar o relatório e te mando, para você adiantar com o delegado. Quando eu chegar na delegacia definimos os próximos passos.
– Combinado, Pinóquio. Até amanhã.
– Até amanhã, grilo.
Os dois se despediram com muito bom humor.
Depois terminar o relatório e enviar para Nando, Ricardo assistiu um pouco de televisão antes de ir se deitar. Queria aproveitar a noite tranquila para descansar, afinal a noite com Ritinha exigira muito dele. Enquanto assistia TV, seu telefone, era um número desconhecido.
– Alô. – falou Ricardo.
– Inspetor Ricardo? – indagou a voz do outro lado da linha.
– Ele mesmo, quem gostaria de falar?
– Inspetor, aqui é a Mônica, neta da Dona Marieta.
– Como vai Mônica, aconteceu alguma coisa? – perguntou ele.
– Não. Que dizer, não sei. Estou meio confusa. São alguns pressentimentos, mas gostaria de conversar com você. – disse ela.
– Tudo bem, pode falar.
– Pelo telefone não. Preferia que fosse pessoalmente.
– Ok. Amanhã será o enterro da sua avó. Pretendo dar uma passada por lá, podemos conversar depois do sepultamento. – sugeriu ele.
– Não gostaria que ninguém me visse conversando com você. Pode ser amanhã à noite? – perguntou ela.
– Tudo bem então. Depois me mande uma mensagem dizendo onde eu posso encontrá-la amanhã.
– Vou fazer isso. Obrigado inspetor. Boa noite. – falou a jovem
– Boa noite. – devolveu Ricardo. O policial desligou o telefone e ficou refletindo um tempo sobre o que poderia estar assustando a jovem. Ficou pensando sobre o assunto até adormecer.
Confira aqui os capítulos anteriores: