Conto policial “Morte ao Acaso” – Capítulo 7

Surge mais um personagem na história

7 – O Amante

Os dois rumaram para o Centro do Rio. Vinte minutos depois Ricardo estava sentado em um café, no Edifício Avenida Central, um importante espaço empresarial localizado no centro da cidade do Rio de Janeiro.

– Inspetor Ricardo? – perguntou um homem que parava à frente do policial.

Ricardo levantou a cabeça e observou o homem antes de perguntar.

– Senhor Arthur?

– Exato.

– Sente-se, por favor. – falou Ricardo puxando a cadeira.

– Obrigado. – agradeceu o sujeito – Antes de iniciarmos essa conversa, gostaria de pedir que o senhor tratasse essa situação toda com muita discrição. Acho que o senhor entende a minha situação.

Ricardo observou o homem a sua frente, parecia nervoso e constrangido.

– O senhor é casado? – indagou o policial.

– Sim. Sou casado há 20 anos e tenho duas filhas. – respondeu ele.

– Entendi. Posso assegurar que nós não temos a menor intenção em prejudicá-lo ou envolver o seu nome em um escândalo.

– Eu agradeço. – ele mostrou uma certa expressão de alívio, mas o nervosismo persistia.

– Mas, o fato é que houve um crime e precisamos descobrir o assassino. E, pelas informações que temos, o senhor conhecia bem a morta. Se o senhor não tiver nenhuma relação com o crime e nos ajudar com todas as informações que puder nos fornecer, posso garantir que seu nome será tratado com muita discrição no caso.

– Agradeço mais uma vez. – o homem continuava nervoso, o suor escorria por sua testa – Eu juro que não matei a Suelen, não tenho nada a ver com essa história horrorosa. O senhor pode perguntar o que quiser, inspetor. Vou falar tudo o que eu sei.  

– Ótimo, senhor Arthur. Sendo assim, vamos nos entender muito bem. Há quanto tempo o senhor “conhecia” a Suelen?

– Pouco menos de três anos. Conheci ela no restaurante em que ela trabalhava, ela era garçonete. Foi numa comemoração de final de ano, do pessoal do meu trabalho. Bebemos muito, mas reparei que ela ficava me olhando. Então, arrisquei uma cantada e ela aceitou. A partir daí, passamos a nos ver regularmente.

– Esse regularmente era com que frequência?

– Uma vez por semana, uma vez a cada 15 dias. Não havia uma frequência definida, sempre que eu conseguia uma brecha, avisava a ela e nos encontrávamos.

– Onde vocês costumavam se encontrar?

– Isso dependia do tempo livre que dispúnhamos. Na maioria das vezes era no apartamento dela.

– Nesses últimos dois anos?

– Isso, dois anos, dois anos e meio.

– O senhor sabe dizer se ela tinha parentes próximos? Alguma vez ela falou da família?

– Ela não gostava muito de falar sobre a família, Inspetor. No começo fiquei sabendo apenas que ela era Pernambucana. Somente após mais de um ano juntos foi que ela começou a falar um pouco sobre eles.

– O que ela disse?

– Ela disse que teve uma infância muito difícil. Família pobre, da periferia do Recife. Muita dificuldade financeira e violência doméstica também.

– Abuso sexual?

– Não, isso ela nunca mencionou não. O pai bebia muito, não conseguia parar em nenhum emprego e mãe tinha que se virar, trabalhando direto para sustentar a casa. Ele pegava todo o dinheiro da mulher e gastava com bebida. Quando ela se recusava a dar o dinheiro, pensando nos filhos, ela apanhava. Disse que ele batia muito nos filhos também. Quando ele estava bêbado, o que era constante, era um terror para todos eles.

– Ela tinha muitos irmãos?

– Um irmão mais velho que ela. Parece que o pai, depois de um acidente, não pode mais ter filhos. Ela não soube explicar direito essa história pois era muito pequena quando isso aconteceu. Mas, parece que esse fato também deixava o homem furioso.

– Como era a relação dela com o irmão?

– Também não era boa. O irmão era alguns anos mais velho que ela. Quando ele apanhava do pai, descontava nela.

– E a mãe?

– Era o único laço de família que ela realmente tinha. A mãe morreu quando ela estava com 15 anos. Logo depois ela fugiu de casa. Ela disse que, depois de deixar a casa, perambulou um tempo pelas ruas do Recife antes de ir para São Paulo.

– São Paulo?

– Sim. Ela disse que veio para São Paulo, mas ficou mais ou menos um ano por lá, então veio tentar a sorte no Rio.

– O senhor sabe se ela mantinha algum tipo de contato com o pai?

– Não, com certeza não. Ela detestava o pai. Não queria saber dele.

– E o irmão?

Arthur fez silencio e abaixou a cabeça, olhando para a xícara de café que havia pedido.

– Algum problema? – perguntou Ricardo.

– Não, nenhum problema. É que há cerca de uns dois, três meses ela veio conversar comigo. Estava nervosa, um pouco agitada.

– E qual era o motivo da agitação?

– O irmão tinha aparecido. Ela não sabia como ele a havia encontrado, mas estava no Rio, perdido nas ruas de Copacabana, sem nada e queria dinheiro dela.

– Há dois meses?

– Isso, dois meses, um pouco mais. Pelo menos foi quando ela comentou comigo. Não sei se ele apareceu antes.

– Entendi. O senhor chegou a ver o irmão?

– Sim, duas vezes. – Arthur voltou a abaixar a cabeça – Uma vez estávamos numa padaria, tomando café e o homem apareceu. Tinha o aspecto horrível, sujo, pensei que era um mendigo pedindo comida, mas ele falou diretamente com ela, chamando-a pelo nome. Falou algumas coisas sobre o passado, a família, dinheiro. Falava de uma maneira agressiva. Acabei botando o sujeito para correr. Depois que ele foi embora ela me disse quem era.

– E a segunda vez?

Diante da pergunta Arthur voltou a demonstrar a fisionomia tensa do início da conversa. Contraiu o rosto, o suor voltou a escorrer pela testa.

– O que houve, seu Arthur? O que foi agora? – perguntou Ricardo.

– Não, nada. – o homem passou a mão pela testa, enxugando o suor.

– Então me diga quando foi a segunda vez que o senhor encontrou com o irmão da Suelen.

– Bem, hum. – a tensão no rosto do homem aumentou.

Percebendo o nervosismo do homem e a dificuldade em prosseguir com a conversa, Ricardo resolveu arriscar uma pergunta.

– Por acaso teria sido no último sábado?

– Veja bem, inspetor, eu não tenho culpa nenhuma, eu não matei a Suelen.

– Mas eu não estou lhe acusando de nada. Só estou perguntando se o senhor viu o homem no último sábado. Essa pode ser uma informação muito importante para a nossa investigação.

Arthur levantou a cabeça e encarou o policial por um instante, avaliando a situação antes de tomar uma decisão sobre o que falar.

– Foi no sábado. Minha sogra ligou para minha esposa naquele dia pela manhã, dizendo que não estava se sentindo bem. Minha esposa foi para casa dela e levou as meninas. À tarde ela me ligou dizendo que havia levado a mãe ao hospital e que iria ficar por lá naquela noite. Acabei achando ótima a situação. Aproveitei para ligar para a Suelen, para nos encontrarmos. Fui correndo para Copacabana e tomamos uma cerveja num bar mais escondido. Num caso como o nosso, é sempre melhor frequentar lugares mais discretos. Ficamos juntos até por volta das 21 horas. Como minha mulher estava me mandando várias mensagens, achei mais prudente voltar para casa.

– A Suelen gostou disso?

-Não, nem um pouco. Ficou brava, reclamou muito, pois achou que iríamos passar a noite juntos.

– E então…

Capítulo 6

Capítulo 5

Capítulo 4

Capítulo 3

Capítulo 2

Capítulo 1

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