Problemas de família
8 – A briga com o irmão
O homem parou para tomar folego. Ainda estava muito nervoso, sabia o que iria falar agora e as consequências que isso poderia ter para ele.
– Então, eu a levei para casa. O bar era perto e estávamos a pé. Na verdade, eu tinha ido a Copacabana de uber, para deixar o carro na garagem, isso ilude os vizinhos fofoqueiros. – falou o homem soltando uma discreta risada.
– Entendi. O que aconteceu quando vocês estavam indo para a casa da Suelen?
– Quando estávamos próximos ao prédio dela, menos de duas quadras, o irmão dela apareceu do nada, saído de um beco e veio pra cima dela falando, gritando na verdade, que precisava de dinheiro, que estava passando fome e que ela precisava fazer algo por ele. Dei um empurrão nele e o cara se assustou com a minha reação, ele hesitou e eu fui pra cima. Eu ia colocá-lo para correr quando a Suelen interveio, ela me pediu que esperasse. Pegou a carteira e tirou um dinheiro para dar para ele.
– O senhor o ameaçou?
– Não. Eu o empurrei para longe dela e ia mandá-lo embora quando ela me pediu para esperar.
– O que aconteceu depois?
– Ela ia dar um dinheiro pra ele, então o sujeito agarrou a carteira e ficou puxando, eu intervi. Segurei o sujeito pelo pescoço para que soltasse a carteira da Suelen.
– O senhor tentou estrangular o irmão dela?
– Não, que isso inspetor. Eu nunca faria isso. Segurei ele pelo pescoço somente para intimidá-lo e fazer com que ele soltasse a carteira e se afastasse dela. Nunca passou pela minha cabeça estrangulá-lo.
– Ele soltou?
– Soltou, pegou o dinheiro e saiu resmungando.
– E depois disso?
– Depois disso, eu a levei até o apartamento. Ela insistiu para que eu ficasse, mas, nesse meio tempo, minha mulher tinha mandado uma mensagem de áudio, dizendo que estava vendo a medicação para a mãe, depois colocaria nossas filhas para dormir e iria me ligar. Não pensei duas vezes, deixei a Suelen lá e corri para casa.
– Sua esposa ligou?
– Com certeza. Ficamos quase meia hora no telefone.
– Que horas o senhor deixou a Suelen?
– Por volta das nove e meia da noite, talvez um pouco mais.
– Depois que saiu do prédio da Suelen o senhor voltou a ver o irmão dela?
– Não, inspetor. E avisei a ela para não deixar aquele sujeito entrar no prédio de jeito nenhum, caso ele aparecesse por lá.
– Ali é muito movimentado, é difícil controlar quem entra e quem sai. – comentou Ricardo.
– Sem dúvida. Avisei a ela para não abrir a porta. Agora, fico pensando se aquele desgraçado não voltou lá e a matou. – falou ele olhando para Ricardo, como se esperasse uma confirmação.
Na hora Ricardo achou melhor não falar nada sobre o assassinato do irmão de Suelen, fato que Arthur parecia desconhecer.
– E sobre os amigos dela, o senhor conhecia algum?
– A Márcia. Ela estava sempre com a Suelen. Umas poucas vezes sentamos juntos para tomar cerveja. Tinha também o síndico do prédio, que estava sempre por lá, mas com ele nunca parei para falar, só cumprimentava.
– Ela falava sobre eles?
– Sobre a Márcia, sim. Ela gostava da amiga e confiava nela. Reclamava um pouco, pois achava que a Márcia implicava com a nossa relação, que as vezes queria se meter demais na vida dela. Ela achava que a Suelen devia arrumar um namorado ao invés de um amante. A Suelen ficava brava com isso, mas passava. Ela gostava bastante da Márcia.
– O que o senhor achava disso?
– Sinceramente, nunca liguei para isso. A Suelen comentava, às vezes ficava irritada, mas nunca mudou seu comportamento comigo por causa das opiniões da Márcia, pelo contrário, muitas vezes ela ficava brava com a amiga quando esta falava sobre o assunto. Então, eu não me importava. Para mim o importante era o que a Suelen pensava.
– E sobre o síndico, ela falava alguma coisa?
– Ela não falava muito não. Dizia que ele era um pouco chato, reclamava de qualquer coisa com os moradores, gostava de ditar regras, um sujeito um pouco autoritário. Mas, por outro lado, estava sempre por ali e ajudava muita gente no prédio. Ela dizia que ele era muito fofoqueiro, gostava de se meter na vida dos outros. Suelen nunca deu muita confiança para ele.
– Ele se metia na vida da Suelen também?
– Sim. Ele a sondou para saber quem eu era, mas ela não disse muita coisa. Ele insistiu e ela deu um fora nele, aí o cara sossegou.
– Ele não sabia que vocês eram amantes?
– A Suelen não disse para ele, só a Márcia sabia. Acredito que ele tenha deduzido. Ele é homem, vê um cara chegar no apartamento de uma mulher uma vez ou outra, dá pra desconfiar. Considerando que eu não aparecia regularmente, como seria o normal, caso eu fosse namorado dela realmente, ele deve ter deduzido do que se tratava. Uma vez ela comentou que ele tinha passado uma cantada nela.
– Uma cantada? – a palavra chamou atenção de Ricardo.
– Sim. Ele aproveitou uma situação qualquer e arriscou a sorte, mas se deu mal.
– Entendi. Ela falou sobre mais algum conhecido dela? Algum outro vizinho?
– Não. Ela cumprimentava todo mundo ali no prédio, mas contato mesmo, tinha só com a Márcia e um pouco com o síndico. Com o resto ela falava, mas de muitos nem o nome sabia. Pelo menos era isso que ela me dizia.
– Uma última pergunta, seu Arthur. O senhor seria capaz de reconhecer o irmão da Suelen?
O homem refletiu um pouco antes de responder.
– Acredito que sim. Só o vi duas vezes, uma delas à noite, a rua estava mal iluminada, mas acho que consigo reconhecer sim.
– Obrigado por sua colaboração. Caso seja preciso, vou procurá-lo para que o senhor reconheça o irmão dela.
– Tudo bem, inspetor. Espero que vocês o prendam logo. Qualquer coisa, é só mandar uma mensagem.
– Eu farei isso. – falou Ricardo encerrando a conversa.