Momento de refletir sobre as pistas
9 – Próximos Passos
Depois que o homem se afastou e saiu do prédio Nando sentou-se ao lado de Ricardo. Muitas vezes, por questão de segurança, os dois usavam esse tipo de abordagem. Nando havia ficado o tempo todo sentado numa mesa próxima, como se não conhecesse Ricardo, para o caso de ocorrer uma eventualidade.
– E então? – perguntou Nando.
– Conseguimos algumas coisas. Estou com fome, vamos comer enquanto te atualizo.
Os dois almoçaram enquanto Ricardo relatava a conversa com Arthur.
– Caramba. – Nando mostrou surpresa com o relato do colega – Você acha que ele está falando a verdade?
– Acredito que a maior parte seja realmente verdade. Ele está com muito medo de ser expor com o caso. Não acredito que fosse se arriscar a ficar brincando com a gente, ele tem muito a perder.
– Isso é verdade. Mesmo se foi ele quem matou a Suelen, parte da história é verdadeira.
– Sim, acho que a história do irmão dela é verdadeira, isso explica, inclusive, o pedaço rasgado da carteira na mão dele. – disse Ricardo.
– Agora, se ele está falando a verdade, provavelmente quem matou a Suelen matou também o irmão dela.
– Sim, nesse caso, a pergunta é: quem mais sabia do irmão? Ou ninguém mais sabia, só o Arthur. – refletiu Ricardo.
– Nesse caso, ele se torna o nosso maior suspeito. – concluiu Nando.
– Maior e único. Por que alguém mataria aquele mendigo, que aparentemente não teria nenhuma relação com a Suelen ou alguém daquele prédio?
– As duas mortes podem não ter relação direta. – arriscou Nando.
– Isso pode ser também. Um cara perambulando pelas ruas pode encontrar a morte pelas mais diversas razões. Mas, segundo o Arthur, o irmão apareceu há pouco tempo, cerca de dois meses. Talvez ela não tenha tido oportunidade de comentar com ninguém.
– Nem com a Márcia? – perguntou Nando, em dúvida.
– Com o tal do Ângelo e o síndico talvez ela não tenha comentado mesmo, não sei se ela tinha essa intimidade. Mas com a Márcia ela deveria ter falado sim, até porque ela estava incomodada com a presença dele, não queria ele por perto. A amiga sabendo seria uma segurança a mais para ela.
– Acho que vamos ter que falar com a Márcia de novo. – colocou Nando.
– Vou pedir para o Luís Roberto mandar a foto do irmão da Suelen antes, para mostrarmos para ela.
Depois de refletir um pouco, Nando voltou a falar.
– Então, até agora temos quatro suspeitos, Arthur, Márcia, o síndico e o Ângelo.
– Depende, se consideramos que a mesma pessoa matou os dois, acho difícil ter sido a Márcia. Matar a Suelen, tudo bem, a mulher confiava nela, estava em casa, distraída, não seria difícil matá-la. Ela é maior e mais corpulenta que a Suelen. Agora, o mendigo já complica. Ela teria força para tanto, mesmo pegando o sujeito distraído? – ponderou Ricardo.
– É uma boa argumentação. E se não foi um único assassino? – perguntou Nando encarando o amigo.
– É uma ideia. – disse Ricardo depois de refletir por um tempo – Um cuida da Suelen e o outro do irmão. Pode ser uma possibilidade, a questão é o motivo, quem ganha com a morte da Suelen e do irmão?
– Precisamos verificar se ela possuía dinheiro, seguro de vida.
– Não acredito que ela tenha muito dinheiro guardado, estava desempregada. Mas vamos verificar isso, ela poderia ter um seguro. Mas deixaria o seguro para um dos vizinhos? Já o nosso amigo Arthur teria muito a perder se ela estivesse insatisfeita com a posição de amante. Ele mesmo admitiu que ela não gostou quando ele disse que ia voltar para casa no sábado. E se ela estivesse querendo mais do que ser apenas uma amante, se ameaçasse fazer um escândalo e contar para a mulher, ele teria muito a perder.
– Já vimos muitos crimes serem cometidos por conta disso. – lembrou Nando.
– Com certeza. – concordou Ricardo enquanto consultava o telefone – O Luís Roberto mandou as fotos do irmão dela. Mandou mais algumas informações. A Suelen foi estrangulada, quem a matou estava atrás dela. O irmão dela também foi morto por estrangulamento, provavelmente pela aplicação de uma “gravata”, também pego pelas costas.
– Nesse caso, acho que você tem razão em relação à Márcia, não acredito que ela teria força para aplicar uma “gravata” no mendigo e matar ele. – falou Nando.
– Muito difícil. Não acredito que ela tivesse força suficiente para manter o cara preso numa gravata até matá-lo. Com certeza ele reagiu, tentando se soltar, qualquer um faria isso, enquanto tivesse força. A Márcia teria que ser muito forte para conseguir estrangular aquele sujeito. – concluiu Ricardo.
– Você tem razão. A pessoa pega em uma gravata vai se debater até perder o ar, você tem que ter força para travá-lo ali e esperar que ele vá desfalecendo. Ela não teria essa condição. Se a Márcia está envolvida nesses assassinatos, ela não está sozinha.
– É verdade. Era a Marcelle. – falou Ricardo olhando para a mesa, sem levantar a cabeça.
– O que? Quem é Marcelle? Do que estamos falando agora? A jovem com quem você está saindo? Aquela de hoje de manhã? – foi um bombardeio de perguntas de Nando.
– Para que tanta pergunta. Você não queria saber?
– Sabia que você ia acabar falando. Marcelle…. Marcelle…. – refletiu Nando, fazendo um esforço para lembrar quem era ela.
– Marcelle, a neta da dona Marieta, do nosso último caso.
– Puta que pariu. – Nando colocou as mãos na cabeça.
– Qual é o problema. O caso já foi encerrado, ela é livre, eu também.
– Você não dá ponto sem nó. Ainda bem que esse caso que pegamos agora não envolve nenhuma jovem bonita. Eu não aguento essas suas histórias.
– Você adora minhas aventuras, seu fofoqueiro, estava doido para saber com quem era a mulher com quem eu estava saindo. Cuidado, “a curiosidade matou o gato”. – brincou Ricardo.
– Cuidado porque o gato dessa história pode ser você. Fica se metendo onde não deve, vai acabar mal.
– Por que me metendo onde não devo? Ela é solteira eu também, o caso foi encerrado, não há mais nenhuma relação nesse sentido, não risco de comprometer nenhuma investigação, então por que não posso sair com ela?
– Eu desisto, não falo mais nada. Faça o que quiser.
– Então fique quieto Grilo Falante e vamos para Copacabana falar com a Márcia. Vamos descobrir se ela sabia do irmão da Suelen ou não.
– Vamos nessa, garanhão. – provocou Nando.