9 – O atentado
Uma hora depois os dois policiais estavam na Praia de Botafogo. Ricardo ficou na rua Voluntários da Pátria, esquina com a rua Nelson Mandela. Havia um bar na esquina onde Mônica já o aguardava.
– Olá, boa noite. – falou Ricardo se aproximando. Ele reparou que ela havia escolhido uma mesa no canto, parecia que não queria ser notada.
– Boa noite, inspetor. – falou ela apertando a mão do policial – Tudo bem?
– Tudo bem e com você? Você parecia bem preocupada ao telefone. Me diga o que está lhe incomodando, estou a sua disposição.
– Fico feliz que você esteja aqui, me sinto mais segura.
Ricardo ficou observando a jovem que estava a sua frente. Não era tão bonita como Marcelle, mas tinha uma presença marcante, com toda a certeza. Parecia uma figura dominadora.
– Vamos lá, qual o problema? – perguntou ele.
– É que fiquei muito pensativa, desde a morte da vovó. Estive com ela no final de semana anterior e ela me fez uma confidência. Falou algo que veio logo a minha mente quando vocês falaram que a morte dela não fora um acidente.
– O que ela disse?
– Ela mencionou uma discussão que tivera com a Marcelle. Ela estava muito assustada com o comportamento da minha prima.
– Sua avó mencionou o motivo da discussão? – perguntou ele.
– Ela não foi muito clara, mas foi algo relacionado a dinheiro. Não sei se Marcelle está em dificuldades financeiras, o que pode estar acontecendo. Mas eu confesso que nunca vi minha avó daquele jeito.
– De que jeito?
– Ela estava com medo. Você não conheceu dona Marieta, ela não tinha medo de nada nem de ninguém, mais aquele dia ela estava realmente assustada.
– Essa conversa foi no final de semana anterior ao crime? – indagou Ricardo.
– Sim, foi no domingo anterior.
– Você esteve no apartamento dela?
– Sim. Estava lá perto e dei uma passadinha para ver como ela estava. Então ela me contou essa história e estava realmente assustada.
– Ela disse quando a Marcelle havia estado lá?
– Na sexta-feira no final do dia.
– Você comentou com alguém?
Ela pareceu um pouco surpresa com a pergunta.
– Não. Vou confessar uma coisa, num primeiro momento achei que a vovó não estivesse bem da cabeça. A Marcelle nunca foi agressiva nem violenta. Mas a medida que ela falava o medo ia transparecendo na voz dela. Então percebi que ela só podia estar falando a verdade.
– Mas você não acha que deveria ter contado para sua mãe ou seu tio? Parece ter sido uma coisa bem séria.
– Eu fiquei impressionada. Até eu fiquei com medo do que poderia estar acontecendo com a Marcelle.
– Você falou com sua prima depois disso?
– Liguei para ela na segunda-feira.
– E… – incentivou Ricardo.
– Como eu falei, fiquei com medo. Então liguei, mas não quis tocar no assunto. Inventei uma história de que tinha tido um sonho ruim com o tio Olavo, queria saber como ele estava.
– E ela, o que disse?
– Disse que isso era bobeira e que ele estava bem. Mas parecia um pouco nervosa.
– Você voltou a falar com ela ou com a sua avó após esse telefonema?
– Não, inspetor, não falei com mais ninguém. Então quando soube do acidente da vovó, não liguei as coisas. Quer dizer, pode ter sido um acidente? – quis saber ela.
– Não, sem chance de ter sido um acidente. Sua avó foi morta.
– Pois é. Desde então essa história não sai da minha cabeça.
– Eu agradeço a sua informação. Vamos buscar formas de confirmar sua história.
– Não sei se vocês vão ter como confirmar isso. Pelo que a vovó falou a conversa foi na sexta à noite. A Rosa já tinha ido embora, então não há testemunhas dessa conversa, só o que ela contou pra mim.
– Por acaso sua avó falou se havia contado essa história para mais alguém?
– Não, ela não falou nada sobre isso.
– Bem, vou ver o que podemos conseguir com essa informação.
– Você acha que pode ter relação com o crime?
– Não posso dizer. Vamos investigar essa possibilidade, mas ainda é cedo para falar qualquer coisa. – respondeu Ricardo – De qualquer forma, agradeço a sua informação.
– Você acha que eu devo voltar a falar com a Marcelle?
– Melhor você não tocar mais no assunto com ela, nem falar nada com ninguém. Deixe isso comigo, pois nós vamos investigar essa possibilidade.
– Tudo bem, inspetor, confio em você. Vou aguardar os acontecimentos.
Ricardo olhou o relógio, já passava um pouco das 22 horas da noite. Sua noite revigorante de sono estava indo embora, só chegaria em casa depois das 11.
– Mais uma vez agradeço por essa informação.
– Tudo bem, inspetor. Já entendi que está na hora de nos despedirmos.
– Não se trata disso, mas eu moro longe e amanhã tenho que estar na delegacia bem cedo. – tentou explicar ele.
– Tudo bem, eu compreendo.
O policial pagou a conta e os dois saíram do bar. Pararam na equina e Ricardo perguntou:
– Onde você mora?
– Eu vou aqui para a rua São Clemente, para a casa de uma amiga.
Os dois caminharam pela Nelson Mandela em direção à São Clemente. Aquela hora o movimento de carros já estava bem mais fraco. Eles caminhavam tranquilamente, já falavam mais da morte de dona Marieta. Estavam chegando à São Clemente, quando Ricardo perguntou:
– A casa da sua amiga é nesse trecho?
– Sim, é mais ali na frente, bem no início da rua.
– Então vamos atravessar.
Ricardo virou o corpo para olhar o movimento dos carros na Nelson Mandela para eles atravessarem. Nesse momento percebeu um carro que vinha lento, à direita da pista. Por um momento teve a sensação de que já tinha visto o veículo antes. Ele pegou o braço da jovem e logo que eles deixaram a calçada, o carro acelerou com tudo na direção deles. Com um reflexo muito rápido o policial voltou para a calçada, puxando a jovem com ele. Ele se jogou com chão, protegendo Mônica com o corpo enquanto ouvia dois disparos. O carro entrou na São Clemente e fugiu a toda velocidade.
As poucas pessoas que estavam no local buscaram se proteger dos tiros. Formou-se um grupo na esquina das duas ruas. Queriam saber se estava tudo bem com Ricardo e Mônica. Ricardo levantou-se, puxando Mônica.
– Você está bem? – perguntou ele.
– Estou fora o susto, está tudo bem.
Ricardo averiguou com os presentes se alguém havia anotado a placo do carro, mas não teve sorte. Um rapaz que estava no ponto de ônibus afirmou que o carro era um onix, foi tudo o que conseguiu. O carro Ricardo sabia que era um ônix preto, mas não conseguiu anotar a placa, nem ele nem ninguém que presenciou a cena.
– Acho melhor você ir para casa. – falou ele.
– Você tem razão, é melhor ir para casa mesmo.
– Venha, vou levar você.
– Não precisa. – falou ela.
– Vou levá-la, com certeza. – Dizendo isso, Ricardo fez sinal para um táxi. Mônica deu o endereço para o motorista e, em alguns minutos estavam em frente ao prédio da jovem. Depois de deixá-la em casa o policial pegou um uber e rumou para Irajá. Sua noite estava longe de terminar com ele previra. Estava cansado, mas permanecia em estado de alerta, com a mão próxima à arma. A corrida foi rápida, mas pareceu demorar uma eternidade. Chegando em casa ele tomou um banho e foi se deitar. Não queria saber de mais nada até o dia seguinte.