Os policiais encontram uma testemunha chave para solucionar o crime
11 – Uma testemunha
Ele não chegou a completar a frase, parou ao ouvir uma voz de criança atrás dele. Virou -se e viu um menino, que devia ter uns 12 anos.
– E aí seu policial, tudo certo? – cumprimentou o menino.
– Tudo certo. E com você? – os policiais devolveram o cumprimento.
– São vocês que estão investigando a morte da Suelen, não é verdade? – perguntou o garoto.
– Sim, somos nós. Você a conhecia? – indagou Ricardo.
– Sim. Ela era muito legal, falava com a gente, as vezes nos dava bala, eu gostava dela. Não foi legal o que fizeram.
– Você mora no prédio? – perguntou Nando apontando para o edifício onde Suelen morava.
– Moro, no quinto andar.
– Por acaso você viu a Suelen no sábado à noite? – arriscou Nando.
– Claro que vi. Nós sempre estamos por ali brincando, vemos um monte de gente todos os dias. – respondeu rapidamente o menino.
– Como é seu nome? – quis saber Ricardo.
– Thiago.
– Quando você viu a Suelen no sábado?
– Foi à noite, vi ela chegando com um cara, parecia namorado dela.
– Você lembra que horas eram? – indagou Ricardo.
– Hora eu não lembro, mas não era cedo, eu já tinha jantado. E estava brincando na escada quando eles passaram. Ela até brincou comigo. – esclareceu o menino.
– E você continuou brincando na escada? – era Nando quem perguntava agora.
– Sim, à noite minha mãe não me deixa ir para a rua, então fico dentro do prédio, brincando entre os andares. Naquele dia fiquei brincando até tarde.
– Você viu quando eles dois chegaram?
– Isso.
– E viu quando o homem foi embora? Ele demorou para sair? – perguntou Ricardo.
– Vi. Ele não demorou, não. Desceu logo depois e foi embora.
– E depois disso, aconteceu algo mais? – arriscou Nando.
– Sim. – falou o menino abrindo um sorriso, como se estivesse prestes a revelar um grande segredo, baixando o tom de voz – Eu vi algo mais.
– Então diga para a gente o que você viu? – pediu Ricardo se aproximando e abaixando para ficar na altura do garoto.
O menino começou a falar e, quanto mais falava, mais os dois policiais tentavam disfarçar a surpresa.
– Calma, garoto, fala mais devagar. – pediu Ricardo – Você está com fome?
– Eu estou. Você vai pagar um lanche para mim? – quis saber o menino, que estava eufórico com o efeito que seu discurso provocara nos policiais.
– Vou. Vem comigo. – os policiais levaram o garoto a um padaria do outro lado da rua.
– E agora, o que vamos fazer? – perguntou Nando.
– Eu vou ligar para o delegado. Você fica aqui e não tira o olho do garoto. Ele pode ter visto o assassino e nem se deu conta. Se ele ficar falando isso por aí vai acabar sendo morto. Vamos ter que proteger esse moleque.
– Fala com o delegado que eu tomo conta dele.
Ricardo ligou para o delegado. Estava preocupado com a segurança do menino por conta do que ele tinha visto. Ele tinha um pressentimento de que seria perigoso para o garoto ficar por ali, de um lado para o outro. Se ele tivesse contado aquela história para alguém, já estaria correndo um grande risco.
– Ricardo. Estou entendendo que o menino está em perigo. Mas a questão é que isso que o garoto falou não é suficiente para efetuarmos uma prisão. Ele pode ter visto o culpado, mas também pode ser que não. E ele pode estar inventando essa história para aparecer para vocês.
– Eu entendo delegado. Mas é um risco deixarmos esse menino aqui, mesmo que ele esteja mentindo.
– Mesmo que você esteja certo, vou precisar de um tempo para tomar as providências. Vamos ter que ver o programa de proteção a testemunhas. Vocês conseguem tirar o garoto daí por um tempo? – perguntou o delegado.
– Não sei, delegado. Não podemos botar ele no carro e sair daqui isso equivale a um sequestro. Se formos falar com a mãe dele, isso vai chamar atenção de todo mundo na vizinhança.
– Eu sei. Precisamos pensar na melhor solução. Vamos precisar verificar a Delegacia de Proteção à Infância e à Adolescência.
– Um minuto delegado. O Nando está me chamando. – Ricardo atravessou a rua com o telefone no ouvido.
– Diga.
– Passou um coleguinha dele aqui. Pedi que o menino chamasse a mãe do Thiago aqui na padaria, sem chamar a atenção. Olha, eles estão vindo.
O outro menino vinha andando rápido, pelo canto da calçada, com uma mulher ao lado dele.
– Aqui está ela tio, não falei que trazia rapidinho. Ninguém percebeu. – disse o garoto todo feliz com a missão cumprida.
– Beleza. Pega um doce para você também. – autorizou Nando.
– O que está acontecendo? – perguntou a mãe de Thiago.
– Boa tarde, senhora. Desculpe o mal jeito, mas se trata de uma emergência. – explicou Nando.
Os dois policiais explicaram rapidamente a situação à mãe de Thiago. Na medida em que iam falando a mulher ia ficando mais assustada. Quando eles terminaram, a mulher estava paralisada.
– Minha mãe do céu. Menino, por que você tinha que ficar andando por aí ao invés de ficar quietinho em casa? E você não me conta nada. – protestou ela.
– Mas eu não fiz nada mãe. E ainda estou ajudando a polícia. – disse o garoto cheio de orgulho.
– Isso é verdade Dona…? – indagou Nando.
– Lurdes.
– Dona Lurdes. Essa participação do Thiago pode ser decisiva para resolvermos o caso. – explicou Ricardo – Só que agora precisamos garantir que ele fique seguro.
– Aí meu filho. O que eu faço agora? – a mulher estava aflita.
– Calma. Se a senhora confiar na gente, nós vamos cuidar dele. Vamos precisar tirá-lo daqui, será por algumas horas, depois seu filho volta para casa sã e salvo. – assegurou Ricardo.
– Pode deixar mãe. Eu sei me cuidar. – disse o garoto cheio de si.
– Minha mãe. Vocês me desculpem, mas no Rio de Janeiro pobre ter que confiar na polícia é muito difícil. – falou a mulher.
– Nós entendemos. Mas pense bem, se quiséssemos fazer mal para ele não procuraríamos a senhora, teríamos levado ele de uma vez. – ponderou Ricardo.
– Nisso você está certo. – disse ela depois de refletir por alguns segundos – mas é muito difícil. Isso parece uma loucura.
– Eu garanto para a senhora que ele vai ficar bem. – Vou passar os nossos telefones para a senhora. – falou Ricardo pegando um papel para anotar os números – Amanhã estaremos de volta com ele.
– Para onde vocês vão levar o meu filho? – perguntou ela, ainda desconfiada.
– Para uma delegacia especializada em crianças e adolescentes, lá ele ficará seguro até amanhã. – esclareceu Ricardo.
– Tudo bem. – ela acabou concordando, pegando o pedaço de papel com os telefones dos policiais.
– Então vamos nessa. Vou pegar o carro. – falou Nando indo em direção ao veículo.
– Dá a volta no quarteirão. – sugeriu Ricardo – Me pega na rua de trás, vou pra lá com o Thiago.
Mãe e filho se despediram e Ricardo saiu andando com o garoto em direção à esquina.
Mais alguns minutos e estavam entrando no carro da polícia.
– E agora, para onde vamos levar o garotão? – perguntou Nando.
– Ele vai para a Delegacia de Proteção à Infância e Adolescência. – disse Ricardo enquanto fazia uma chamada ao telefone.
– Eu preciso ir para a delegacia? Não quero, não. – protestou o menino – Eles vão me deixar preso lá.
– Não é nada disso, você precisa ficar sob a proteção deles até amanhã, quando resolveremos esse caso. – explicou o policial.
– Quero não.
– Fica tranquilo, confia na gente. Nós não podemos ficar com você, precisamos deixar você sobre proteção policial. Nós confiamos em você, agora é a sua vez de confiar em nós dois. – falou Ricardo.
– Você conhece alguém lá? – perguntou Nando.
– Conheço. – Ricardo fez um sinal para Nando enquanto falava ao telefone.
Após alguns minutos ele desligou o telefone e falou para Nando.
– Toca lá para a Central. Tem uma amiga minha que é de lá e está de plantão, ela vai tomar conta dele.
– Assim que é bom, as mulheres resolvem tudo para você. Cara bom. – brincou Nando, rumando para a delegacia.