A testemunha em segurança
12 – Em segurança
Depois de um tempo eles estavam perto da Central do Brasil, onde fica a Delegacia de Proteção à Infância e Adolescência. A amiga de Ricardo esperava pelos dois na porta.
– Esse é o garotão? – perguntou ela.
– Isso, esse é o Thiago. Essa aqui é uma amiga minha, a Tânia. Ela vai ficar com você até amanhã.
– Tudo bem Thiago? – indagou Tânia, passando a mão na cabeça do menino.
– Tá nada bem. Eu fui ajudar os policiais aí, pensei que ia participar da ação e agora vim parar na delegacia. Tô gostando disso não, Tia. – falou o garoto.
– Fica tranquilo, vai ficar tudo bem. Eu vou tomar conta de você. Deixa só eu conversar um minutinho com o Ricardo e nós já vamos lá para dentro.
Tânia deixou Thiago com Nando para conversar com Ricardo.
– Obrigado por ter quebrado esse galho. – começou a falar Ricardo.
– Agora que ele já está aqui, em segurança, me explica melhor o que está acontecendo. – pediu ela.
Ricardo narrou a história da morte de Suelen, as investigações que ele e Nando estavam fazendo e o aparecimento de Thiago.
– Que sorte esse menino ter falado com vocês, se ele conversa com a pessoa errada, a essa hora já estaria morto. – comentou Tânia.
– Pois é, foi isso que pensamos. Ainda bem que o garoto é esperto não saiu falando o que viu. Mas não podemos ter certeza se ele realmente não falou com mais alguém. Ele diz que não, mas criança é foda, fala demais, quer mostrar que sabe das coisas. Não viu que ele queria participar da ação conosco. Por isso não podíamos deixar ele lá. Ia acabar dando problema.
– Quanto tempo vocês precisam? – perguntou ela.
– Espero que seja só até amanhã. O delegado já está tomando algumas providências e estamos esperando umas últimas informações da perícia. Talvez já estejamos prontos para agir na madrugada ou logo no início da manhã. Vamos esperar apenas o sinal dele. – explicou Ricardo.
– Que loucura. Bem, pode ficar tranquilo, eu cuido dele até amanhã. – falou ela com uma voz doce, se aproximando de Ricardo – E nós? Quando você terá um tempinho para mim?
– Assim que terminar esse caso. O delegado nos tirou da folga no domingo e jogou esse caso no nosso colo. Espero que ele nos devolva a folga depois dessa. Mas, juro que assim que encerrarmos esse caso eu volto, com calma para conversarmos melhor.
– Você acha que amanhã vocês vão conseguir fechar esse caso?
– Acredito que sim. O perito me mandou uma mensagem, sinalizou que tem algumas informações que podem ajudar. Se essas informações complementarem o que o Thiago viu, fechamos esse caso amanhã, com certeza.
– Ótimo, vou tomar conta dele, mas não é bom ele ficar aqui muito tempo, esse ambiente não é dos melhores para uma criança. – falou ela.
– Fique tranquila, meu anjo, eu sei que mesmo sendo uma delegacia especializada, esse não é o melhor lugar para uma criança que não está envolvida com a bandidagem. Se não conseguirmos fechar esse caso amanhã, eu vejo com o delegado o que podemos fazer. Mas estou certo de que vamos resolver isso rapidamente. Espero que até a hora do almoço o caso já esteja solucionado. Eu mantenho contato com você. O seu plantão vai até que horas? – indagou ele.
– Não se preocupe com isso. Já falei com o Delegado, só saio daqui amanhã depois que entregar ele nas suas mãos. – Tânia tranquilizou o policial – E depois disso, sobra um tempinho para mim? – perguntou Tânia, olhando nos olhos de Ricardo.
– Eu já prometi que sim, volto assim que esse caso terminar. Pode ficar tranquila, tenho certeza de que amanhã, a essa hora, estaremos bem tranquilos, só nós dois.
– Você mesmo volta para pegar o garoto?
– Claro, eu e meu parceiro. Volto para levar ele para casa e, depois, para ficar com você. – falou sorrindo.
– É bom mesmo ou vou arrumar um mandado e te prender.
– Que isso? Se eu for preso com vou voltar aqui? – perguntou ele as gargalhadas.
– Fica tranquilo. No mandado vai estar muito bem especificado que será uma prisão domiciliar. Você vai ficar detido, mas lá em casa. – brincou ela.
– Com certeza eu vou cumprir o mandato, nem precisa se preocupar. – falou ele.
Depois o policial foi se despedir de Thiago.
– Cara, eu sei que isso é uma grande confusão para você, mas fique aqui quietinho com a Tânia, até a amanhã. Depois tudo volta ao normal na sua vida. Eu prometo.
– Tudo bem. Pode deixar, vou me comportar. Mas eu gostaria de participar da ação com vocês.
– Quem sabe uma outra vez, quando você estiver maior. – Dizendo isso o policial se despediu e os dois rumaram para casa.
– Rapaz, você ainda vai provocar uma guerra na polícia civil do Rio de Janeiro. – provocou Nando.
– Fica frio. O importante não era colocar o garoto em segurança? Agora ele está. Então vamos descansar que amanhã o dia vai ser cheio.
Os dois seguiram para casa. Ricardo chegou e foi logo tomar um banho. Estava cansado, essa aparição do Thiago na investigação tinha sido providencial, praticamente elucidava o caso, mas era uma preocupação a mais ter que proteger o menino. Se bem que era preciso conseguir as provas, só a palavra do garoto poderia não ser o suficiente, já que ele não testemunhara o crime. O maior problema é que o garoto não podia voltar para casa enquanto o caso não estive resolvido ou estaria correndo risco de morte. Tânia foi providencial, ela ficando com o menino na delegacia o deixava bem mais tranquilo, mas eles precisavam resolver o caso e liberar a criança, para que ele pudesse voltar para casa. Ele também tinha questões pessoais a resolver. Tinha Tânia voltando para sua vida, mas também tinha Sandrinha, Ritinha e agora Marcelle. Que confusão.
Depois do banho se sentou para comer alguma coisa, enquanto pensava nas quatro mulheres que estavam em sua vida nesse momento. “E, por hora, é melhor que sejam somente essas ou vou acabar realmente me metendo em confusão. Isso parece praga do Nando.”
Ele pensou nas quatro e no que cada uma representava para ele. “Estou pensando demais, o que não é bom. Pelo menos isso nunca me aconteceu antes.” Tinha ligado a televisão, mas somente para ouvir um som qualquer, não estava prestando atenção em nada que passava na tela. Continuava com a cabeça nas meninas e na tentativa de responder à pergunta que estava martelando em sua cabeça: “Por que estava pensando nas mulheres se isso nunca havia acontecido antes?” Sempre saiu com várias garotas, mas nunca ficou se perguntando por que saia com A ou B ou C. Isso o intrigava, o que havia de diferente dessa vez? E quanto mais pensava, mais chegava a uma conclusão, isso só aconteceu após ter saído com Marcelle. Ficou refletindo sobre o significado disso. Fosse qual fosse a resposta, não estava gostando muito de tudo aquilo.
Por enquanto, concluiu, o melhor a fazer era dormir e descansar um pouco, pois o dia seguinte prometia. Então, Ricardo desligou a televisão e foi se deitar.