13 – Hora da verdade
Após uma breve pausa para poder observar todos os presentes, Ricardo começou sua explicação.
– A verdade é que já avançamos em vários pontos, mas temos ainda algumas questões que precisamos esclarecer. O que temos é o seguinte. – continuou ele – Dona Marieta foi morta, foi brutalmente assassinada com uma pancada na cabeça. Quando chegamos ao apartamento, na segunda-feira, reparamos a posição do corpo, que deixava claro que alguma coisa tinha acontecido de diferente ali. Ela não estava posicionada como se tivesse levado um tombo, o corpo estava torcido de uma forma bem estranha. Isso chamou nossa atenção e levantou suspeitas. Inclusive, foi por isso que os PM’s nos chamaram. A perícia confirmou o que esperávamos, ocorreu um assassinato. O laudo apontou que a causa da morte foi uma pancada contundente na parte posterior da cabeça. Mas também indicou que ela havia levado um tombo, dona Marieta estava com o tornozelo fraturado. Ou seja, ela teve uma queda e, na sequência, foi morta.
– Mas isso é ridículo, a mamãe teria gritado por socorro. – exclamou Olavo.
– Deveria, mas não fez ou não teve tempo. – falou Nando.
– E por que não? – perguntou Olavo.
– Porque ela estava sob o efeito de soníferos. Em resumo, sua mãe foi dopada e caiu, mas não morreu. Então ela foi golpeada na cabeça. A primeira coisa que fizemos foi verificar as câmeras de segurança do prédio, vimos descobrimos que o sistema estava com problemas e passando por manutenção ao longo do final de semana, ou seja, não estavam funcionando. Não houve registro de quem entrou ou saiu do prédio nesses dias. Mas, verificamos as câmeras dos prédios vizinhos, no sábado e no domingo. Então, pelo menos sabemos que dois de vocês, no mínimo, passaram pela porta do prédio, uma no sábado no início da noite e outra na tarde de domingo. A perícia conseguiu encontrar algumas impressões digitais. A perícia também verificou as impressões digitais, quem esteve aqui tomou o cuidado de apagar a maior parte das impressões, mas algumas ficaram.
– Mas isso não quer dizer nada, qual o problema de vocês encontrarem uma impressão digital minha na casa da minha mãe ou eu passar aqui pela porta? – indagou Solange.
– A princípio, nada de especial. – comentou Nando – Realmente seria esperado que encontrássemos várias digitais pela casa, da própria dona Marieta, da Rosa, até mesmo de vocês, apesar de não estarem por aqui sempre. Mas o que ocorreu foi justamente o contrário, não encontramos quase nada. Alguém teve o trabalho de apagar as impressões digitais de várias partes da casa. No quarto da dona Marieta, por exemplo, não encontramos digitais. A conclusão é simples, alguém apagou tudo ou quase tudo.
– Isso quer dizer que quem esteve aqui no domingo procurou limpar os rastros. Conversamos com os vizinhos, que nada ouviram no domingo, com o síndico. Verificamos as câmeras dos prédios vizinhos. – emendou Ricardo.
– Muito eficientes. – zombou Solange.
– Conversamos com o advogado de dona Marieta, o Dr. Paulo. – continuou Ricardo, ignorando o deboche da mulher – Ela nos passou um quadro financeiro da situação, qual era o patrimônio dela e quem se beneficiaria com sua morte. Com essa informação nas mãos, solicitamos a quebra do sigilo bancário de todos vocês.
De forma proposital, Ricardo fez uma pausa em sua narrativa, pois queria observar com calma o efeito que essa declaração causaria em cada um dos presentes. Olavo ficou branco como uma cera, os jovens mudaram a fisionomia no mesmo momento, agora o rosto de cada um deles denotava uma grande preocupação. Solange reagiu furiosa.
– Como assim? – berrou ela, levantando-se do sofá – Isso é um absurdo, como vocês tiveram esse descaramento de quebrar meu sigilo bancário. Vou processar a polícia, o Governo do Estado. Isso é o fim do mundo.
– A senhora pode até processar a polícia e o Governo. Mas eu adianto que tudo foi feito dentro da legalidade. Não há nada de absurdo ou ilegal no que fizemos. Enfim, constatamos que todos vocês estão em situação financeira delicada, pelos mais diferentes motivos, e que a morte de dona Marieta seria muito bem-vinda do ponto de vista econômico para todos.
– Que espécie de monstros são vocês, que vêm aqui e nos acusam dessa forma? – gritou Solange que a essa altura andava de um lado para o outro na sala.
– Calma dona Solange, ficar nervosa não vai ajudar a resolver o problema. E, ainda não estamos acusando ninguém, não citei nomes. Por enquanto, estou apenas levantando os dados que apuramos.
– Então por que os senhores não falam logo o que vieram dizer e nos deixam em paz? – falou Solange, que ainda estava de pé e aproveitava para encarar Ricardo.
– Tudo bem, estou avançado na história, mas preciso seguir uma linha do tempo para que vocês possam entender o que aconteceu. Vamos em frente. – continuou Ricardo, ignorando o nervosismo da mulher – Juntamos os fatos, temos a questão financeira e as imagens da vizinhança que aponta que muito provavelmente duas pessoas estiveram aqui naquele final de semana. Lembrando que vocês negaram ter estado com ela nesses dias.
– Duas pessoas? – se surpreendeu Olavo.
– Sim, duas pessoas. O que ocorreu aqui, seu Olavo, foi um crime planejado. Uma pessoa veio aqui no sábado, deu sonífero para dona Marieta para que ela estivesse sonolenta no dia seguinte. No domingo uma segunda pessoa voltou, para fazer o trabalho. Dona Marieta, ainda sonolenta, cai no quarto, fratura o tornozelo, mas permanece viva. Então, a solução encontrada pelo nosso visitante foi de dar-lhe uma pancada na cabeça, resolvendo a questão. Depois fugiu levando a arma do crime.
– Isso só pode ser uma brincadeira! – protestou Solange – Vocês têm a coragem de nos reunir aqui para falar essas barbaridades, como se fossemos uma família de assassinos. Dizer que dois de nós cinco cometeram um ato desses. Que matamos nossa mãe ou avó dessa forma brutal?
– A verdade, dona Solange, é que todos vocês tinham motivo para cometer o crime e tiveram a oportunidade. Dona Marieta vivia sozinha, recebia poucas visitas e todos vocês tinham as chaves da portaria do prédio e do apartamento, acesso livre. Para ajudar mais ainda a vizinha de porta, a dona Célia, estava na casa da filha em Petrópolis e as câmeras estavam desligadas. Qualquer um podia entrar e sair sem ser visto.
– Eu não vou ficar aqui ouvindo esse absurdo, esse lixo, de pessoas despreparadas. Vou voltar para minha casa e procurar o Doutor Paulo, isso já ultrapassou os limites. – protestou Solange.
Ricardo ficou olhando para ela, esperando que ela parasse de falar.
– Não estamos falando nenhuma besteira. Obtivemos, junto à Justiça, a quebra do sigilo bancário de vocês, portanto estamos sabendo como cada um de vocês está financeiramente. A senhora, por exemplo, possui, hoje, uma dívida que passa dos R$ 50 mil junto a seu banco.
A mulher ficou com o rosto vermelho, congestionado de raiva, pensou em xingar os policiais e deixar o local, mas depois de refletir por alguns segundos, achou melhor ficar. A comunicação de Ricardo atingiu a mulher em cheio.
– Isso é repulsivo. Eu tenho uma pequena dívida que está 100% negociada com o banco.
– No total sua dívida soma R$ 53 mil. – informou Nando.
– E daí, e dei garantia e o banco aceitou, então onde está o problema?
– Sua garantia foi sua parte na casa de Petrópolis. – Falou Ricardo – Nós conversamos com o seu gerente. Além disso, também interceptamos as ligações telefônicas e temos mensagens trocadas no sábado e domingo que deixam claro o que aconteceu no apartamento de dona Marieta nesses dois dias. Se a senhora pretende falar com o doutor Paulo acho uma atitude bem prudente, a senhora vai precisar mesmo dele.
– O que o senhor está querendo dizer com isso, inspetor? Que foi Solange quem matou a mamãe? – quem perguntou foi Olavo.
Ricardo virou-se para encarar o homem antes de responder. – Dona Solange vai precisar dos serviços do doutor Paulo… – ele não conseguiu terminar a frase, pois a mulher voltou a se levantar, aos berros.