Chegou a hora de falar de mais um grande poeta da literatura brasileira e o que não falta na nossa história são excelentes poetas e escritores para serem lembrados. Por isso vamos falar da vida e da obra de Cassiano Ricardo, poeta, jornalista, advogado e ensaísta, outro expoente da nossa cultura.
O início
Cassiano Ricardo Leite nasceu em São José dos Campos, em 26 de julho de 1894. Era um dos três filhos de Francisco Leite Machado e Minervina Ricardo Leite, os outros dois eram seus irmãos, Vanda e Aristides. Seus estudos básicos foram feitos em sua cidade natal, São José. Após concluir o ensino médio, ele muda-se para a cidade de São Paulo, para ingressar no curso de Direito, de onde vai sair formado advogado em 1917.
Ainda no período de estudante, em 1915, publicou seu primeiro livro de poesias, “Dentro da Noite”. Após essa primeira publicação, vieram muitas outras obras, confira.
Livros
– Dentro da noite – 1915
– A Flauta de Pan – 1917
– Jardim das Hespérides – 1920
– A mentirosa de olhos verdes – 1924
– Vamos caçar papagaios – 1926
– Borrões de verde e amarelo – 1927
– Martim Cererê – 1928
– Deixa estar, jacaré – 1931
– Canções da minha ternura – 1930
– Marcha para Oeste – 1940
– O sangue das horas – 1943
– Um dia depois do outro – 1947
– Poemas murais – 1950
– A face perdida – 1950
– O arranha-céu de vidro – 1956
– João Torto e a fábula – 1956
– Poesias completas – 1957
– Montanha russa – 1960
– A difícil manhã – 1960
– Jeremias sem-chorar – 1964
– Os sobreviventes – 1971
Ensaio
– O Brasil no original – 1936
– O negro da bandeira – 1938
– A Academia e a poesia moderna – 1939
– Marcha para Oeste – 1940
– A poesia na técnica do romance – 1953
– O tratado de Petrópolis – 1954
– Pequeno ensaio de bandeirologia – 1959
– 22 e a poesia de hoje – 1962
– Algumas reflexões sobre a poética de vanguarda – 1964
– O indianismo de Gonçalves Dias – 1964
Com três livros publicados até o início da década de 1920, Cassiano foi um dos expoentes do movimento pela realização da Semana de Arte Moderna de 22. Participou de forma ativa dos grupos ‘Verde Amarelo’ e ‘Anta’, estando ao lado de intelectuais e escritores como Menotti del Picchia, Raul Bopp, Plínio Salgado e outros.
Depois de alguns anos, Cassiano abandonou o direito e se tornou funcionário público, ocupando diversos cargos na administração, como secretário do interventor de São Paulo, Pedro Toledo, nomeado pelo governo provisório de Getúlio Vargas. As diferenças entre o Estado de São Paulo e o governo provisório levou à Revolução Constitucionalista de 1932 e Cassiano acabou preso, ficando dois meses na prisão.
Ainda no ambiente político, em 1937 Cassiano Ricardo fundou, junto com Menotti del Picchia e Cândido Mota Filho o movimento político ‘a Bandeira’, que se opunha ao integralismo de Plínio Salgado.
No campo do jornalismo, ele foi redator do jornal ‘Correio Paulistano’, entre 1923 e 1930; dirigiu o periódico ‘O Anhanguera’, em 1937 e ‘A Manhã’, de 1940 a 1944. Participou da criação de três revistas, a ‘Novíssima’, em 1924; a ‘Planalto’, em 1930; e ‘Invenção’, em 1962.
ABL e a cultura
A influência de Cassiano Ricardo na cultura brasileira do século XX foi significativa. Em 1937 foi eleito para a Academia Brasileira de Letras (ABL), ocupando a cadeira nº 31. Além da ABL, ele fez parte da Academia Paulista de Letras e foi presidente do Clube de Poesia de São Paulo.
Cassiano também fez parte do Conselho Federal de Cultura, criado em 1966, que era ligado ao Ministério da Educação e Cultura, onde vai conhecer uma nova geração de intelectuais e escritores como Guimarães Rosa, Rachel de Queiroz, Ariano Suassuna, Afonso Arinos, Burle Marx, Pedro Calmon, Josué Montello, Otávio de Faria e outros.
A poesia de Cassiano
Como poeta passou pelas diversas fases da poesia, do parnasiano ao moderno. Seu trabalho está entre os mais importantes da literatura brasileira. Confira um pouco de seus versos:
Iara, a mulher verde
Neste país de coisas em excesso
o sol me agride, o azul passa da conta.
No entanto, os poucos beijos que te peço
o teu amor futuro me desconta.
De tanto céu tenho a cabeça tonta.
O meu jornal é todo em verde impresso.
Só tu, a quem já um pássaro amedronta,
te fechas no mais íntimo recesso.
No país do excessivo, és muito pouca.
Vê a borboleta jovem, como esvoaça.
Vê como nos convida a manhã louca!
Por que seres assim, se tudo é assombro,
se a própria nuvem branca – e com que graça –
só falta vir pousar em nosso ombro?
Elegia para minha mãe
Só me resta agora
esta graça triste
de te haver esperado
adormecer primeiro.
Ouço agora o rumor
das raízes na noite,
também o das formigas
imensas, numerosas,
que estão, todas, corroendo
as rosas e as espigas.
Sou um ramo seco
onde duas palavras
gorjeiam. Mais nada.
E sei que já não ouves
estas vãs palavras.
Um universo espesso
dói em mim com raízes
de tristeza e alegria.
Mas só lhe vejo a face
da noite e a do dia.
Não te dei o desgosto
de ter partido antes.
Não te gelei o lábio
com o frio do meu rosto.
O destino foi sábio:
entre a dor de quem parte
e a maior – de quem fica –
deu-me a que, por mais longa,
eu não quisera dar-te.
Que me importa saber
se por trás das estrelas
haverá outros mundos
ou se cada uma delas
é uma luz ou um charco?
O universo, em arco,
cintila, alto e complexo.
E em meio disso tudo
e de todos os sóis
diurnos, ou noturnos,
só uma coisa existe.
É esta graça triste
de te haver esperado
adormecer primeiro.
É uma lápide negra
sobre a qual, dia e noite,
brilha uma chama verde.
Prêmios
Com uma obra de alta qualidade Cassiano Ricardo ganhou duas vezes o Prêmio Jabuti, em 1961 e 1965 e o Prêmio Juca Pato, em 1965.
Falecimento
Cassiano Ricardo faleceu no Rio de Janeiro, no dia 14 de janeiro de 1974, por problemas decorrentes da diabetes.
Mais um gênio da poesia
O autor foi um dos mais importantes poetas brasileiros do século XX. Um escritor que passeou pelas várias fases da nossa poesia, valorizando muito a nossa cultura. Sem dúvida, é um autor cuja poesia merece muito ser apreciada.